A voz dos cachos: o poder da transição

setembro 02, 2015

A lindeza de hoje foi uma das maiores inspirações para que eu descobrisse a transição capilar. A Rôana contou para nós seu processo de transição em detalhes e isso me emocionou demais. Quem de nós não viveu situações parecidas? 
Quando a vi após o BC eu pulei de alegria! E cada vez que a encontro fico fascinada. As molinhas estão cada dia mais lindas e brilhantes!
Esse post é para você que ainda está na duvida sobre a transição capilar. E especialmente para as meninas que tem cabelo do tipo 4 e mandaram muitas mensagens para nós buscando inspiração de quem já venceram a transição.
Fiquem com o relato de uma mulher que se redescobriu e está incrivelmente poderosa.

1. Qual seu nome, idade e profissão?
Rôana Góes, 25 anos, Urbanista.

2. Você começou a usar química no cabelo com quantos anos e qual foi o motivo? 
Nesta foto ela tinha uns 7 anos

Comecei muito nova. Não tenho uma lembrança exata da idade, mas sei que foi antes dos 10 anos. Não consigo nem lembrar como era meu cabelo quando criança (já que o processo de alisamento foi muito cedo), só sei como ele era porque vejo nas fotos da infância. Provavelmente, minha mãe deve ter começado a aplicar química no meu cabelo porque naquela época cabelo crespo era considerado “ruim”, “rebelde”, e acreditavam que a “solução” para que ele ficasse “apresentável” era essa. O que muita gente acredita até hoje, mas, a cada dia estamos conseguindo desconstruir este pensamento. 

Eu relaxei o cabelo por muitos anos, sempre com aquela dependência, pois quando a raiz do cabelo crescia um pouquinho eu achava que já estava com o cabelo horrível, muitas vezes deixando de sair porque o cabelo estava feio. E mesmo relaxando, eu não achava meu cabelo bonito. Não tinha o costume de escovar, fazia isso poucas vezes, então o cabelo não ficava nem cacheado, nem liso, era aquele meio termo, que na época eu achava, pelo menos, aceitável. Além disso, tinha o sofrimento de quando a química feria o couro cabeludo, e aquilo levava dias para cicatrizar. 

Cabelo com relaxamento e escova
Usei vários tipos de química: Permanente com uso de bigudinho, Guanidina, Super-Relaxante, entre outros. O último, que é do Instituto Beleza Natural, foi o que usei nos últimos 3 anos desta fase da minha vida de cabelo com química.

Em 2010 eu ouvia algumas pessoas próximas falando sobre o relaxamento do BN. Resolvi experimentar o produto desta empresa. Passei relaxar o cabelo lá, praticamente todo mês (eles indicam que o processo seja feito neste período). Mas não via muito resultado que eu desejava no início, pois ainda tinha o comprimento do cabelo com a química que usava antes no cabelo. Por volta de 1 ano e meio de uso do Super-Relaxante, e após alguns cortes, meu cabelo começou a cachear e eu comecei a ficar satisfeita com o resultado. 
Período do uso do Super-Relaxante
3. Você passou pela transição?  Quantos meses tem de BC ( big chop= corte de toda química ).

Já passei (ufa! rsrs). Fiquei 6 meses e meio em transição, e fiz o BC há 1 anos e 5 meses.
4. E como foi seu processo? 
O processo de transição foi tenso (rsrsrs). Com o uso do produto do Beleza Natural (que inclusive foi importante para mim no processo de querer meu cabelo cada vez mais natural e passar a me achar bonita com o cabelo mais volumoso) e algumas reflexões a respeito da minha identidade, como mulher negra, comecei a sentir vontade de voltar a ter o meu cabelo natural (que eu nem sabia como era), e me questionar também sobre a minha dependência com o Super-Relaxante. Se os outros produtos que usei durante anos, e que eram de fácil acesso, pois vendem em farmácias, lojas de cosméticos, etc., eu já era dependente, imagine um produto que só podia ser aplicado dentro dos Institutos (não era comercializado fora do BN). Passou pela minha cabeça muita coisa, do tipo: “se um dia eu precisar passar um tempo em outra cidade, estado ou até outro país, como vou manter meu cabelo relaxado, se o Instituto Beleza Natural só existe em poucas cidades aqui do Brasil?”. Com isso, comecei a pensar em um dia deixar de usar química, mas isso ainda era algo muito distante.
Em 2012, não lembro como cheguei a isso, vi um vídeo de uma menina que tinha feito transição capilar (eu nem sabia ainda o que era isso) e ela tinha o cabelo crespo também. Ela contava toda a história da transição dela, mostrando fotos antigas e atuais. Nas fotos atuais, era ela com um cabelo enorme, bonito e crespo. Fiquei tão feliz com aquele vídeo, pois me senti representada e vi que era possível ter um cabelo natural e bonito. Pensei em começar a transição no final do não de 2012, mas como minha formatura estava próxima (e eu imaginava que não ficaria bonita nesse período), resolvi esperar e começar a transição capilar logo após a formatura, o que de fato aconteceu. A última vez que passei química no cabelo foi dia 21 de agosto de 2013, há 2 anos. (uhuuuuuu!!!! =P)
Pouco antes do último relaxamento

5. Você sentiu ou sente dificuldades na transição?

Quando eu decidi fazer a transição capilar, passei a me informar mais sobre o assunto. Entrei em grupos no facebook e passei a me inscrever em canais do You Tube para acompanhar as dicas das blogueiras. Achei muita coisa legal e que me ajudou muuuuuito na transição. Sem estas informações, não sei o que seria de mim tanto na época, como agora pós BC. Mesmo com as diversas que são compartilhadas na internet, comecei a sentir dificuldade após o 3° mês de transição. Eu pretendia esperar um ano sem química para fazer o BC e fui cortando as pontas todo mês. Mas chegou uma hora que para mim já estava insuportável a transição. Minha autoestima começou a ficar muito baixa, pois o cabelo já estava muito feio com as diferentes texturas. A vontade de cortar foi crescendo dentro de mim. Conversava com algumas pessoas (família e amigos) que estava pensando em cortar. Mas, ouvi muitas reprovações, que era para eu esperar crescer mais o cabelo. Até que um dia resolvi fazer um corte (maior do que os que eu estava fazendo todo mês), e pensei: “se ficar muito feio, faço o BC”. Cortei e concluí que ficou pior do que estava. No outro dia, após refletir muito sobre o que eu queria e o que os outros queriam, além do fato de que 3 colegas haviam feito o BC a pouco tempo (e eu achei este ato delas tão corajoso), resolvi cortar também e me livrar de vez daquele sofrimento.
4º mês de transição 

6. Quais descobertas você fez sobre seu cabelo e sobre você?
Fiz muitas descobertas. Em primeiro lugar que meu cabelo é meu e pronto. Não preciso modifica-lo, caso eu não queira, só para me adequar ao que é imposto pela sociedade, para me enquadrar no que é considerado como padrão de beleza. Assim como os outros tipos de cabelo, o crespo também é lindo! Posso fazer com ele o que eu quiser, desde que eu me sinta bem, e não para que os outros aprovem. Aprendi a valorizar mais a beleza negra, e me impor com isso, agrade ou não às outras pessoas. Descobri como cuidar do meu cabelo, existe uma diversidade de produtos (naturais ou industriais) que eu posso usar neles, entre outras coisas.

7. Como era sua relação com seu cabelo? E como é essa relação atualmente?
Antigamente eu não sabia cuidar do meu cabelo, não pesquisava nada sobre o assunto. Além do que achava ele feio mesmo com química, não gostava do meu cabelo. Só passeia achar ele melhorzinho depois do Super-Relaxante. 

O tão sonhado BC
Atualmente eu amo meu cabelo! A cada dia o amor só cresce. Não sei como maltratei ele por tantos anos. Estou sempre em busca de aprender mais a cuidar dele, a identificar o que ele precisa, pesquiso a composição dos produtos que vou usar, etc. Desde o início da transição, não fui mais em nenhum salão de beleza, até os cortes foram eu que fiz e continuo fazendo.

8. Quais produtos mais te ajudaram ou ajudam? Quais são seus produtos favoritos?
Os produtos que mais me ajudaram na transição foram: óleos vegetais (rícino, azeite de oliva extra virgem, óleo de coco, etc); tônico de alho; e as receitas caseiras com cenoura, beterraba, mel, creme de leite, leite de coco, etc. Continuo usando, praticamente, estas mesmas coisas que usava na transição. Mas, acrescentei alguns produtos que venho gostando muito, como: Ativador de cachos (Salon Line), G Gelatina (Capicilin), Creme Milagre (Creoula), Banho de Creme (Bio Vegetais), Glicerina, Dream Cream (Creoula), Morte Súbita (Creoula), Bepantol, entre outros.

9. Como ficou sua autoestima depois da transição?
Muito melhor, sem comparação! Hoje eu me sinto muito mais bonita com o cabelo que tenho, não deixo de ir a lugar algum por causa dele (já fiz muito isso no período em que usava química e a raiz do cabelo estava grande). Além disso, recebo muitos elogios, muitas mulheres me param na rua para perguntar como eu cuido do meu cabelo e como deixei de usar química.

10. Qual a pior frase que vc ouviu / ouve desde que deixou de assumiu o seu cabelo natural?
Ouvi coisas como: “vai usar o cabelo duro agora?”. Inclusive, isso veio de alguns amigos e familiares. Hoje, todos que um dia criticaram, adoram meu cabelo! Elogiam sempre, umas também passaram a usar o cabelo natural e outras sentem vontade, mas ainda não tem coragem. Acontece até de primos ou amigos meus virem pedir conselhos para as namoradas que querem voltar a ter o cabelo natural.

11. Você deixaria algum conselho para outras mulheres considerando sua experiência capilar?
Para quem ainda está na dúvida ou tem curiosidade para um dia voltar a ter o cabelo natural, quero dizer que se permitam! Dê uma chance ao seu cabelo, ao menos uma vez. Procure conhecer ele. Caso não goste, não se adapte, você pode voltar a fazer qualquer outra coisa no cabelo, inclusive usar química. Mas, pelo menos, você vai ter a oportunidade de conhecer ele e saber se vai gostar ou não de usá-lo natural.
Para quem já decidiu voltar ao cabelo natural e está passando pela transição, procure pesquisar como cuidar do cabelo e cuide muito bem dele nesta fase também. Uma coisa que me ajudou muito foi o cronograma capilar. Fiz durante toda a transição e por muito tempo após o BC. Esse procedimento foi muito importante para eu saber o que o meu cabelo precisa, e os componentes que são necessários para suprir a necessidade dele. Hoje, sempre que posso, sigo o cronograma, mas, já ciente das necessidades do meu cabelo. A transição é difícil (na maioria dos casos), mas daqui a pouquinho passa!
Foto Atual: Divando! #quelindezamenina!
Após 2 anos sem química e 1 ano e meio de BC, posso dizer: VALE MUITO A PENA! Voltar ao meu cabelo natural foi uma das melhores decisões que tomei na minha vida.
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Isso é lindo de ler e sentir, Rô! Obrigada por compartilhar sua experiência com a gente. Todo dia é dia de dar chance à nós mesmas e você inspirou e ainda vai inspirar muita gente. Cada dia mais sucesso! Estou muito honrada de que tenha participado do nosso movimento para fortalecimento das mulheres.
A Rôana tem uma história capilar linda e que com certeza mexe muito com cada uma de nós! Que cada uma possa se permitir a ser feliz seja como for! Arrasem!
Tem uma história para compartilhar conosco? Envie-nos um e-mail: quelindezamenina@gmail.com. Ficaremos felizes demais em postar sua história capilar aqui.

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5 comentários

  1. Que linda! Parabéns, transição é algo complicado e nada complicado ao mesmo tempo haha mas é necessário coragem!

    www.blogbeatrizsousa.blogspot.com ♥

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  2. Vale muito a pena voltar aos cachos o resultado pós transição prova isso. Liiiinda!
    WWW.LARISSAMORALES.COM

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  3. Oii, adorei o post. Também estou passando pela transição e não está sendo nada fácil, estou ansiosa pra ver meus cachinhos novamente!

    http://donaaline.blogspot.com.br/

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